A Expansão e Diversificação da Umbanda: De 1950 aos Dias Atuais
Texto escrito por Tata Darlan dy Oxossi - Abassa dy Oxossi - Fortaleza - Ceará - Brasil
3/22/20253 min read
Nos anos 1940 e 1950, o Brasil testemunhou uma transformação significativa na esfera religiosa, particularmente no que se refere à Umbanda. Fundada em 1950 em resposta à crescente repressão contra os umbandistas, a Confederação Espírita Umbandista (CEU) desempenhou um papel crucial na organização e institucionalização da religião. Sua criação e a fundação de várias federações regionais, como em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e no Nordeste, visavam dar personalidade e estrutura a uma prática religiosa que, até então, enfrentava resistência e perseguição em diversos estados.
Até a década de 1940, a Umbanda estava restrita a algumas áreas do Brasil e sofria com uma repressão intensificada no período do Estado Novo (1937-1945). Contudo, com o fim desse regime, a prática religiosa afro-brasileira começou a se expandir por todo o território nacional, e a Umbanda se consolidou como uma religião com raízes profundamente ligadas às tradições afro-brasileiras, mas com influências de outras doutrinas, como o espiritismo e o catolicismo. Este processo se deu principalmente no Rio de Janeiro, onde a religião passou a contar com uma estrutura organizada e visibilidade nos meios de comunicação.
Entre 1940 e 1950, a Umbanda se dividiu em dois grandes grupos: um mais próximo das tradições africanas e outro mais alinhado com os princípios do espiritismo kardecista. O primeiro modelo, conhecido como "umbanda omolocô", foi influenciado pela ideia de diáspora africana e teve em Tancredo da Silva Pinto, conhecido como Tatá Tancredo, seu maior representante. Ele defendia a umbanda como uma religião de raízes angolanas, particularmente associada à tribo dos Lundas-Quiocôs, no Congo. Para Tancredo, a Umbanda deveria manter uma conexão mais forte com as tradições africanas, distantes das influências europeias.
Por outro lado, a "umbanda branca" representava a vertente que procurava aproximar a religião do espiritismo, de Zélio de Moraes e da União Espírita de Umbanda do Brasil (UEUB), que se tornaram as grandes referências dessa linha. Esse modelo visava afastar a Umbanda de suas origens afro-brasileiras, adotando uma postura mais conciliatória com o catolicismo e o espiritismo. Ao longo dos anos 1950, os dois modelos disputaram espaço no campo religioso umbandista, com a imprensa local e as organizações sociais se dividindo entre as duas vertentes.
É importante destacar que a Umbanda não pode ser entendida isoladamente do contexto social e político da época. Durante os anos 1940 e 1950, o Brasil passava por grandes mudanças nas relações raciais. O Movimento Negro, que havia ganhado força nos anos 1930 com a Frente Negra, começou a se organizar de maneira mais formal. Em 1944, líderes negros fundaram o Teatro Experimental do Negro (TEN), que, embora interrompido pela ditadura militar, foi fundamental para a valorização da cultura e identidade negra no Brasil. Esse "renascimento negro" também se refletiu na Umbanda, uma religião que se tornou um espaço de resistência, afirmação cultural e busca pela igualdade social.
A partir da década de 1950, as federações de Umbanda começaram a se diversificar ainda mais. Algumas defendiam uma "Umbanda pura", enquanto outras, como a federação de Tancredo, advogavam por uma Umbanda mais próxima de suas raízes africanas. Tancredo da Silva Pinto, um dos principais porta-vozes dessa vertente, foi responsável por muitas inovações, como a criação de festas religiosas emblemáticas, como as de Iemanjá e de Xangô, e eventos como o “Você sabe o que é Umbanda?”, realizado no estádio do Maracanã, que visavam aproximar a religião de um público mais amplo e, ao mesmo tempo, afirmar a identidade negra no cenário nacional.
Tancredo foi uma figura fundamental nesse processo de afirmação da Umbanda como uma religião genuinamente brasileira, com uma forte conexão com a cultura afro-brasileira. Além de suas contribuições religiosas, ele também foi um grande defensor da organização dos terreiros e da luta contra a discriminação racial. Entre suas iniciativas, destacam-se as festas religiosas e a criação de rituais que reforçavam a presença de figuras ancestrais na Umbanda, como os caboclos e os pretos-velhos, que continuam a ser símbolos poderosos dessa religião até hoje.
Em um momento crucial da história brasileira, Tancredo e outros líderes umbandistas enfrentaram as adversidades de um período de repressão, mas também aproveitaram as oportunidades para expandir a Umbanda e torná-la uma religião mais visível, não apenas nas periferias, mas também nos centros urbanos, com sua própria identidade e capacidade de adaptação.
Hoje, a Umbanda continua a se expandir e a se diversificar, refletindo a complexidade e as várias influências que moldaram sua trajetória. Desde a sua resistência no período de repressão até sua institucionalização nos anos 1950, a Umbanda demonstrou ser uma religião adaptável, com múltiplas faces e capazes de abraçar tanto a herança africana quanto as influências de outras correntes espirituais. Sua história é marcada pela luta pela identidade, pela valorização da cultura negra e pela busca constante de inclusão social e religiosa no Brasil.